Psicologia Hospitalar

  PSICOLOGIA HOSPITALAR

BRUNO QUINTINO DE OLIVEIRA
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Graduando de Psicologia, 10° período - UFF/Rio das Ostras; Discente-pesquisador integrante da pesquisa intitulada Limites psíquicos e relações objetais primárias, Dept° Psicologia – UFF/ Rio das Ostras, CNPQ.

MODELOS DE SAÚDE
            Para compreender a dinâmica institucional que se faz presente no hospital, torna-se imprescindível configurar os modelos de saúde e doença que nortearam esse ambiente. Como o hospital é uma instituição claramente plural no que concerne a diferentes profissionais de saúde, da mesma forma o é lidar com o sofrimento do paciente ali internado.

            Historicamente, o hospital tinha um cunho religioso, excludente e depois, majoritariamente medicinal. Nesse sentido, podemos observar que a priori, o indivíduos hospitalizado eram diagnosticados pelos médicos, seguindo um modelo exclusivamente de cunho biomédico. Ou seja, o processo que era examinado ficava restrito à doença orgânica, fisiológica. O sujeito era desconsiderado como um todo, dando lugar a um olhar exclusivo em relação à doença que o acometia.

            Adiante, outro modelo, conhecido como sistêmico, passou a ser utilizado concomitantemente com o modelo biomédico. Agora, o ambiente em que o sujeito vive passa a ganhar mais importância para entender a etiologia da patogenia.

            A partir do surgimento do modelo processual, a doença ganha novos sentidos e os trabalhadores de saúde começam a valorizar a História Natural das Doenças (HND). Esse modelo defende que a produção de conhecimento epidemiológico ajuda a combater, prevenir e controlar os diversos problemas de saúde. O modelo processual mostra-se importante no sentido de um princípio de humanização quando comparado ao modelo biomédico clássico, uma vez que valoriza um conjunto de fatores complexos e múltiplos relacionado ao surgimento, manutenção e agravo das doenças.

            Outro modelo que acrescentou nessa discussão foi o Sociocultural. Tal perspectiva argumenta que a doença está diretamente relacionada à ambiência social, não reduzindo assim às falhas bioquímicas do sujeito acometido por ela. Allan Young (1980) foi um importante precursor dessa ideologia no campo da saúde.
           
PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR
            A Psicologia da Saúde sustenta que o modelo Biopsicosocial é de fundamental importância para compreender o ser humano. Nesse sentido, questões sociais, biológicas e psicológicas são fatores ímpares para a atuação do psicólogo nesse contexto.

Da mesma forma que podemos falar da Psicologia “no plural”, em função das diferentes teorias que a cercam, no ambiente de saúde também não é diferente. Atualmente podemos perceber a ramificação da Psicologia em diversas áreas que antes não eram consideradas como possíveis de serem alcançadas. No que tange às instituições de saúde, cabe aqui demarcar que a Psicologia toma um espaço que ultrapassa o dos hospitais, Incluindo em sua abrangência os postos de saúde, pronto socorro, etc., prevenindo doenças e minimizando a possibilidade de agravos no âmbito primário, secundário e terciário.

            É de fundamental importância que esse profissional da saúde esteja atualizado quanto às questões sanitaristas e de políticas de saúde da sua região. A Psicologia da Saúde é reconhecida e exercida em países europeus e da América do norte. No Brasil, essa profissão ainda está ganhando o seu espaço, porém aqui ainda não é exigida especialização obrigatória.

            O psicólogo hospitalar tem o seu trabalho exclusivamente centrado no hospital, atuando no âmbito secundário e terciário. O termo "Psicologia Hospitalar" é utilizado somente aqui no Brasil. A partir da década de 30 essa profissão começou a ser exercida em nosso país sendo que na década de 50, com Matilde Neder, se tornou imprescindível. O psicólogo hospitalar deve ser sustentado teoricamente por conceitos da psicologia da saúde, organizacional, clínica e educacional. Não se exige especialização obrigatória para o psicólogo atuar em hospitais.
 
ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR
            Diferente do modelo clínico clássico, o psicólogo que trabalha na instituição hospitalar deve estar atento a uma tríade: paciente, família e equipe da saúde. Isso significa que além do enfermo que está ali sendo cuidado, a base familiar também se torna frágil psiquicamente e desamparada. A equipe de saúde que na maioria das vezes segue o modelo biologizante acaba por se angustiar e não saber lidar com inúmeras situações como um choro aguçado do enfermo, uma recusa alimentícia e uma agressividade primitiva. A falta de treinamento e medo de aumentar o estresse do paciente também são uma das razões em que essa equipe evita a lidar com os aspectos emocionais do paciente.

            O psicólogo nesse local deve ter ciência que uma psicoterapia grupal com esses profissionais além da interdisciplinaridade, ajuda a compreender o paciente como um todo, não em partes. O profissional de saúde (Fisioterapeuta, Nutricionista, Assistente Social, Fonoaudiólogo, Enfermeiro e Médico) poderá assim perceber que é natural o paciente se sentir despersonalizado nesse ambiente, uma vez que sua rotina se modifica, sua intimidade é exposta e seu quarto é interminavelmente rodeado por diferentes pessoas.

            O psicólogo hospitalar deve contribuir para a humanização desse ambiente de trabalho, oferecendo uma escuta plena, um olhar afetivo e estar implicado na melhoria psíquica do paciente ali internado. Cabe lembrar que esse psicólogo estará constantemente lidando com a dualidade vida e morte e com a imprevisibilidade, deparando-se a todo momento com seus próprios limites de trabalho. É importante que esse profissional tenha disposição para atuar em equipe e que tenha uma orientação de conduta técnica onde o sujeito seja visto como um ser complexo, com questões sociais, psicológicas e biológicas.

            Diferente do modelo clínico, a psicologia hospitalar tem um trabalho de essência focal e emergencial, com uma possibilidade múltipla de intervenção. O curso de graduação em Psicologia em muitas universidades acaba por homogeneizar a teoria, sistematizando o trabalho do psicólogo em clínicas particulares, obscurecendo e fechando as cortinas para as realidades sociais onde muitas pessoas não possuem capital necessário para fazer uma terapia. É portanto fundamental, que o estudante de psicologia perceba que o mercado de trabalho é amplo e que a psicologia hospitalar é uma vertente que, exponencialmente cresce no setor de saúde público e privado brasileiro.
 
Referências:
CASTRO, E.K.; B.E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Revista psicologia ciência e profissão, 2004.
FOUCAULT,M. O nascimento do hospital. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. São Paulo: Graal Editora, 2008
SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.